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Neste livro é habitual encontrar críticos que sabiam ver, mas é muitomais raro encontrar um crítico que sabia escutar. E este é um dessescasos, porque quando Natalia escreve que "as pessoas sao fragmentadaspelo enquadramento - os corpos se insinuam mais do que mostram, talcomo os personagem sussurraram mais do que verdadeiramente falam", lenesse sussurro uma logica de desejo, das crenças e das classessociais. E faz com que o leitor perceba como, em um som, podem ser notados diferentes níveis de sentido. Porque, como vemos nolivro, "o som é a melhor maneira de compartilhar a percepçao dealguém". Guiando-se no labirinto de Lucrecia Martel só pela massa desons, a autora analisa a família e o catolicismo, chaves no mundo deMartel. E, de um modo mais inesperado, a influencia dos westerns e dos filmes de terror de classe B, o peso das narrativas orais de Salta eo diálogo com a literatura de Horacio Quiroga e SilvinaOcampo.Este livro, de todos os modos, nao disfruta somentecomo crítica de cinema. Também pode ser lido como estudo de criticacomparada: nao no sentido do que se confronta a filmografia de doispaíses (Brasil e Argentina), mas em um sentido muito mais profundo. Eo olhar de uma brasileira sobre a obra fílmica de uma diretoraargentina. Sem declaraçoes nem falsos dramatismos, Natalia observa eescuta com o frescor de uma estrangeira e a sabedoria de quem entendede cinema.